Nesta próxima quinta (06/05) acontece o Embarque de novas membras do Sociologia em Movimento, via Google Meet. Essa é a primeira vez que o embarque acontece on-line, devido à pandemia de Covid-19. Apesar de tudo, não vamos deixar de conversar. Preparamos um evento bem legal para conhecer vocês e ao grupo, spoiler: teremos um quizz! Vai ser mais ou menos assim:
Vamos começar às 18h30, deixamos 30min pra que a galera do vespertino possa respirar um pouco depois do fim da aula.
Vamos querer conhecer vocês, por isso teremos um quebra-gelo para entender o que vocês pensam e do que gostam.
Depois, vamos contar um pouco sobre a gente, o que fizemos durante a pandemia e especialmente nossa cultura e como pensamos.
Aí o tempo é livre, vamos ouvir as perguntas e responder o que for possível.
Por último, vamos ter um desafio: um quizz sobre o Sociologia em Movimento!
Para ajudar vocês a tirarem dúvidas mais básicas e ganharem o quizz, preparamos uma apostila de Embarque super simples. Você pode acessá-la via PDF ou aqui pelo site:
Apostila de Embarque 2021
Quem somos?
O Sociologia em Movimento é um projeto de extensão universitária criado por estudantes do curso de Ciências Sociais (USP) cuja principal atividade (antes da pandemia)é a realização de oficinas com temáticas das Ciências Sociais em escolas públicas. Com isso, o projeto visa contribuir com a formação de futuros professores e professoras e também colaborar com os processos de reflexão de alunos de ensino médio, de modo concomitante.
Aqui nós usamos o feminino universal, ou seja, todos pronomes neste texto serão femininos. Essa é uma escolha política do grupo para todas comunicações não formais.
Partimos da teoria sociológica sobre educação, de que existe uma estrutura escolar que falha com quem não possui predisposições compatíveis com ela, valendo-se disso, e com o objetivo de romper a hierarquia entre educadores e educandas, o princípio que baseia as atividades desenvolvidas no projeto é o da horizontalidade dos conhecimentos, e é isso que, em nossa concepção, as oficinas diferem de uma aula tradicional.
Além disso, na estrutura atual das instituições universitárias, sobretudo da USP, é necessário lutar pela extensão como uma prática ativa a fim de derrubar o muro que divide a sociedade da bolha universitária, sem deixar de lado o compromisso ético de construir conhecimento de maneira dialógica e coletiva, norteados principalmente por Paulo Freire. Dessa forma, é possível se engajar na luta em uma esfera maior pela escola pública de qualidade, apoiando e participando dos debates acerca do assunto e mobilizando-se pelo ideal de que a educação não deve ser nem formadora, nem conformadora, mas sim transformadora.
Nossas bases
Quem foi Paulo Freire?
Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) foi um educador, pedagogo e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
O objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra.
Como entendemos?
Entendemos Paulo Freire e seu ideário como um instrumento de transformação social. O que acreditamos é que a educação crítica mostra ao educando seu lugar no mundo e as relações sociais que constituem sua vida, fazendo parte de uma estrutura que favorece o “opressor”, da classe dominante.
A consciência desta estrutura permite nos reconhecer enquanto “oprimidos” e reverter o status quo, nos libertando e libertando todos em comunhão. A educação libertária baseia-se nessa conscientização e promove a luta pela humanização de todos.
Educação bancária
O conceito de educação bancária, está ligado a uma analogia de “depositar conhecimento” em alunos. Em moldes gerais, os modelos de educação predominantes nas instituições de ensino reproduzem a educação bancária.
Esse tipo de prática usualmente desconsidera os conhecimentos que cada aluno possui em sua experiência prévia de vida. Essa maneira de educar preza pelo conteúdo e tem bastante a ver com uma mercantilização da educação, como via da formação de mão de obra.
Isso é o que a gente quer evitar!
Oprimido e opressor
Na concepção Freiriana, oprimido e opressor encontram-se em extremos opostos de um sistema de organização social. Neste arranjo, o opressor se mantém em seu status às custas de uma ideologia disseminada em todos os campos que circundam o oprimido.
O oprimido, dessa maneira, possui necessidade de uma ideologia que revolucione suas percepções de mundo, dando cabo à ideologia do opressor. O objetivo da pedagogia de Freire é tocar justamente o oprimido, aquele que é constantemente fragilizado em diversas instâncias para que não tome consciência das problemáticas que o cercam.
Nota-se que Paulo Freire faz uma leitura marxista da educação, pensando que a dominação de classe se reproduz inclusive nas instituições de ensino.
Educação libertadora
Em contraposição ao modelo de educação bancária, Paulo Freire defende uma abordagem dialógica da educação. Isso significa romper com a hierarquia entre educadores e educandos, no sentido de promover um espaço igualitário de diálogo que favoreça a construção coletiva do conhecimento valorizando as mais diversas expressões do saber.
Uma educação que promove libertação em alguma medida emancipa os indivíduos de sua antiga condição para um plano mais amplo de percepção da sua realidade.
Um mito que circula o imaginário social é o de que a escola é o espaço para diminuição da desigualdade, no entanto a maior parte das instituições de ensino são permeadas de ideologias a serviço de um opressor e, portanto, mantém o status quo. Nesse sentido a teoria de Pierre Bourdieu nos ajuda a pensar a escola como uma instituição conservadora, mas que pode ser transformadora na medida em que se reflete sobre esse papel.
Outro autor muito importante para gente é Charles Wright Mills, que cunhou o termo "imaginação sociológica": a capacidade de conectar situações da realidade, percebendo que a sociedade não se apresenta de determinada forma por acaso. Essa conscientização derivada do conhecimento sociológico permite que todos (não apenas os sociólogos por formação) compreendam as ligações existentes entre o ambiente social pessoal imediato e o mundo social impessoal que circunda e que colabora para moldar as pessoas. Tentamos estimular isso em nossos educandos.
No último ano começamos as formações em torno da norte-americana bell hooks e sua obra "Ensinando a transgredir: educação como prática de liberdade". No livro, hooks trata de diversas questões ligadas à educação libertadora, sendo de suma importância para ampliar nossas concepções da prática educativa que vinham de Paulo Freire, pelo qual hooks também se inspira. A autora adota criticamente as concepções de Freire, para falar de temas como corpo, raça e gênero, temas muito ricos para tratar de do que já vivemos e vamos vivenciar em nossas oficinas. Infelizmente ainda não pudemos trazer suas concepções para a sala de aula, mas é uma autora que crescentemente nos inspira.
Saudades de uma sala...
Durante 5 anos, entre 2015 e 2019, as atividades pedagógicas do Sociologia em Movimento ocorreram na Escola Estadual Rosa Bonfiglioli, situada na cidade de Osasco, região metropolitana de São Paulo.
As oficinas eram realizadas uma vez por semana no período da tarde, isto é, no contraturno* das aulas regulares do Ensino Médio, para que os alunos pudessem participar. A escola oferecia a sala de vídeo para os encontros, em que sempre organizamos as cadeiras no modelo de anfiteatro (em roda) e nunca o modelo de plateia, comum das salas de aula, isso facilitava nosso diálogo.
Nessa sala, pudemos usar alguns recursos como TV, aparelho de som, de vídeo e lousa. Assim, fizemos oficinas abordando vários temas, teorias e assuntos das Ciências Sociais. Dentre eles: Abolicionismo Penal, Conceitos de Marx, Violência Policial e de Gênero, Racismo, questão Indígena, Direito à Cidade, Sistema Político, entre outros.
*contraturno: é o turno em que não acontecem as aulas regulares, ou seja, se as aulas regulares são de manhã, as oficinas são a tarde e vice-versa.
Nossa gestão
AUTONOMIA, AUTOGESTÃO E COLABORAÇÃO
Essas três palavras são de extrema importância para o grupo, pois orientam as engrenagens que atuam no plano de fundo da prática pedagógica.
Além de serem essenciais para o funcionamento, garantem que as oficinas e atividades sejam construídas e vivenciadas coletivamente.
Autogestão
O princípio da autogestão consiste na administração de um organismo pelas suas participantes, em regime de democracia direta e horizontal. Dessa forma, procuramos eliminar as hierarquias e mecanismos de poder e opressão. Com isso, todas as integrantes participam das decisões administrativas em igualdade de condições, o que estimula a criatividade e mantém o grupo unido e focado no crescimento do projeto.
Para que todas possam participar de maneira realmente igualitária, é primordial o desenvolvimento da autonomia individual e coletiva, além de manter constante o diálogo sobre as impressões e sensações das tarefas atribuídas entre as integrantes.
Autonomia
A autonomia é um conceito primordial que levamos para a sala de aula e para nossa gestão. O grupo é orientado pela Profa. Dr. Márcia Gobbi que nos dá apoio pedagógico e institucional. Temosreuniões periódicas com ela ao longo do ano, além do acompanhamento pelos grupos e mídias sociais. Isso nos permite que, mesmo com supervisão e orientação da professora, o grupo tenha total autonomia de seu funcionamento. Assim, ressaltamos que aautonomia das membras e das educandas é sempre estimuladaem todas as atividades do grupo.
Colaboração
A gente se chama de família, não à toa. A colaboração é um meio de relação interpessoal que, além de fazer com que as atividades do grupo sejam mais prazerosas e que as tarefas não sejam uma responsabilidade pesada para ninguém, faz com que as atividades sejam mais fluidas e que o público, as alunas e a comunidade USP perceba como a docência pode ser divertida e, mesmo assim, séria e comprometida.
A gente também acredita que a colaboração leva a um diálogo melhor, que é a forma mais prática e que gera melhores resultados. Evitamos sempre votações, quando temos uma discordância geral fazemos formações teóricas sobre o problema e outras formas mais humanizadas de resolução e funcionamento.
Atribuição
Uma hora a gente aprende, depois de muito tempo deixando as atividades do grupo abertas para todas fazerem, nos deparamos com um problema: as vezes ninguém as fazia esperando outras pessoas se voluntariarem.
Agora começamos com uma política de sempre atribuir as responsabilidades no ato da discussão dos assunto. Assim tivemos uma melhora na questão de agilidade e eficácia das atividades.
Mas não se preocupe, tudo é conversado e atribuído com calma e o com o máximo de equidade, inclusive levando em conta recortes de gênero e etnia.
Podcast
No começo de 2020, planejamos mudar nossas atividades para uma nova escola, no entanto, por conta da pandemia, tivemos que mudar completamente nossos planos. Como alternativa, criamos um novo projeto chamado “Sociologia Além da Escola”, uma extensão de cultura exclusiva para a criação de nosso podcast, o Sociologia em Podcast.
A ideia do podcast é continuar ultrapassando as barreiras da universidade a fim de promover uma comunicação entre a comunidade e a academia, mesmo em um mundo pandêmico. Dessa forma, pautando sobre temas de educação e ciências sociais, o grupo produziu durante o ano de 2020 cinco episódios postados quinzenalmente nas mais diversas plataformas como Orelo, Spotify, Youtube, Deezer etc.
Para produção desses episódios, todas as membras do grupo têm autonomia para entrar no projeto de episódio que se sentir mais confortável e que tenham mais empolgação para contribuir. As atividades consistem em: escrever o roteiro, entrar em contato com as convidadas, gravar as apresentações e as conversas, editar os áudios finais e cuidar da divulgação do episódio.
Com os dois projetos, tivemos a oportunidade de trabalhar a interseccionalidade e expandir o grupo: abrimos espaço para receber alunos do curso de Educomunicação e do Audiovisual pelo PUB, que tivessem interesse em conhecer o projeto e contribuir conosco.
Mais
Divisão do PUB
Estamos divididas em dois projetos de Cultura, Ensino e Extensão submetidos ao PUB (Programa Unificado de Bolsas). O Sociologia em Movimento e o Sociologia Além da Escola.
Todos os anos, entre maio e junho, submetemos nossos projetos para avaliação e recebemos a informação de quantidade de bolsas disponíveis para cada.
Um só grupo
Mesmo nos dividindo em dois projetos diferentes, o grupo, como um todo, trabalha com todas as áreas de atuação do SeM.
Claro que você pode se dedicar a uma atividade que gosta mais ou querer participar mais de apenas um dos projetos que tem mais afinidade. Mas vale ressaltar que, nossos planejamentos, reuniões e tarefas são feitas de maneira interligada, levando em conta os dois projetos.
Bolsas
Quando recebemos as bolsas da USP via PUB, o grupo decide a quem serão atribuídas. Para atribuir as bolsas nós consideramos a vulnerabilidade socioeconômica, a necessidade individual de apoio, o fit cultural e também a disponibilidade de tempo e dedicação ao grupo.
Recomendamos a todas membras que se inscrevam no PUB, para que caso uma das bolsas fique vaga, outra pessoa possa assumi-la. Hoje cerca de 75% do grupo recebe bolsas de estudo pelo SeM.
Fontes:
Wikipédia/ Nova Escola
Escrita:
Heven Carneiro, Midria Silva, André Scerb, Ricardo Freire, Isabela Lira, Jerônimo Favaretto, Lucas Yoshimura , Ana Paula Magalhães e Amanda Cristina
Diagramação:
Ricardo Freire
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