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Oficina: Imaginação Sociológica

A oficina consiste em um exercício de imaginação sociológica com as alunas, seguido de uma apresentação mais conceitual sobre o tema. Primeiro pedimos para a sala se dividir em grupo e oferecemos diferentes objetos/temas para esses grupos (que eles mesmos escolheram), com a orientação de cada grupo refletir brevemente sobre a sua relação com os objetos escolhidos ao longo de sua vida, e como eles têm estado presentes na sua história. Em seguida, cada grupo pesquisa a história do respectivo objeto na internet. Por fim, cada grupo apresenta as duas pesquisas feitas e tenta fazer a relação entre a história mais ampla do objeto e a sua relação pessoal com ele. Posteriormente, os discentes então, fazem uma breve apresentação sobre o conceito de imaginação sociológica.

Objetivos: Suscitar discussão sobre o que é Sociologia e qual sua serventia; Identificar a definição do conceito de imaginação sociológica como relação entre biografia e história; Analisar a realidade a partir da Imaginação sociológica como “ferramenta intelectual” para se pensar a relação entre tópicos próximos ao agente social e o contexto social mais amplo.


Recursos: o docente pode trazer itens (ex. livro, cartão de transporte, plantas, etc) para os estudantes pensarem, bem como, pode trazer algum tema em específico, seja conceitual ou até mesmo jornalístico.

Contextualização 


A imaginação sociológica é um termo criado por Mills para designar aquilo que o pensador acredita ser a melhor maneira para se “fazer” Sociologia. A imaginação sociológica representa a conexão entre os fenômenos para além da experiência individual com as instituições com as quais as pessoas convivem. Ela representa a capacidade que o intelectual tem de analisar aquilo que “vai por trás” em simples acontecimentos da vida cotidiana e que trazem complexas tramas sociais subjacentes. Para conseguir estabelecer essas conexões mais amplas entre indivíduo e sociedade é preciso analisar a sociedade que vivemos de maneira externa, com o maior distanciamento possível. Precisamos diminuir ao máximo as tendências particulares que influenciarão nosso olhar e olharmos as coisas de maneira diferente a que estamos habituados.

A imaginação sociológica é uma prática criativa, uma tomada de consciência sobre as relações entre os indivíduos e a sociedade de que são membros. Com ela podemos enxergar que a sociedade não é fruto do acaso. Essa tomada de consciência não é exclusiva aos sociólogos, mas a todos que entrem em contato com a imaginação sociológica, permitindo que compreendamos as ligações entre a esfera individual e o mundo social que nos rodeia. Com a imaginação sociológica podemos perceber como um ato especialmente particular, como o divórcio, interfere em toda a sociedade. O aumento de divórcios redefiniu a instituição social “família” tornando comum a composição familiar de “pais separados”. É com imaginação sociológica (mesmo sem conceituar o procedimento) que Durkheim consegue abordar um ato tão individual como o suicídio por uma perspectiva social.

A “imaginação sociológica” tem sua utilização fundamentada na necessidade de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo na sociedade e no período no qual sua situação e seu ser se manifestam. Podemos, pela imaginação sociológica, perceber o que se dá à nossa volta e o que acontece conosco como pontos de cruzamento entre nossa biografia e a história da sociedade.

Anthony Giddens, comentando a prática na Sociologia, lembra da imaginação sociológica de Wright Mills da seguinte forma:

“A imaginação sociológica nos pede, sobretudo, que sejamos capazes de pensar nos distanciando das rotinas familiares de nossas vidas cotidianas para poder vê-las como se fosse algo novo. Consideremos o simples ato de beber uma xícara de café. Que poderíamos dizer, desde um ponto de vista sociológico, deste feito de comportamento, que parece ter tão pouco interesse? Muitíssimas coisas. Em primeiro lugar, poderíamos apontar que o café não é só uma bebida, já que tem um valor simbólico como parte de uns rituais sociais cotidianos. Com frequência o ritual a que vá unindo o beber café é muito mais importante que o ato em si. Duas pessoas que ficam para tomar um café provavelmente têm mais interesse em encontrar-se e bater papo do que apenas beber. A bebida e a comida dão lugar em todas as sociedades a oportunidades para a interação social e a execução de rituais, e isto constituem um interessantíssimo objeto de estudo sociológico.

Em segundo lugar, o café é uma droga que contém cafeína, a qual tem um efeito estimulante no cérebro. A maioria das pessoas na cultura ocidental não considera que os adeptos ao café consomem drogas. Como o álcool, o café é uma droga aceita socialmente, em outras que a maconha, por exemplo, não é. No entanto, há culturas que toleram o consumo de maconha, e inclusive de cocaína, mas preocupada sobre o café e o álcool. Aos sociólogos lhes interessa saber por que existem estes contrastes.

Em terceiro lugar, um indivíduo, ao beber uma xícara de café, forma parte de uma série extremamente complicada de relações sociais e econômicas que se estendem por todo o mundo. Os processos de produção, transporte e distribuição desta substância requerem transações continuadas entre pessoas que se encontram a milhares de quilômetros de quem o consome. O estudo destas transações globais constitui uma tarefa importante para a Sociologia, posto que muitos aspectos de nossas vidas atuais vêm sendo afetadas por comunicações e influências sociais que têm lugar na escala mundial.

      Finalmente, o ato de beber uma xícara de café supõe que anteriormente se tem produzido um processo de desenvolvimento social e econômico.

      Junto com outros muitos componentes da dieta ocidental agora habituais — como chá, bananas, batatas e açúcar branco, o consumo do café começou a se espalhar no final do século XIX, e embora tenha originado no Oriente Médio, a enorme demanda por este produto desde o período da expansão colonial ocidental meio século atrás. Atualmente, quase todos bebem café nos países ocidentais a partir de áreas (América do Sul e África) que foram colonizados pelos europeus, mas de jeito nenhum é um componente da dieta “natural” do Ocidente.”

Dois elementos são chave para o desenvolvimento da imaginação sociológica, o estranhamento e a desnaturalização.

O estranhamento é, antes de tudo, uma admiração. Quem estranha reconhece nos mais simples fenômenos sociais complexidade e importância. Estranhar é, também, um “reolhar”. Quando estranhamos, observamos a vida social novamente, agora sob uma perspectiva de conhecer o que há de novo, o que passou despercebido, o que se transformou no senso comum. Se, de repente, você se pega perguntando por que dá sinal a um ônibus num ponto específico fazendo um movimento característico com as mãos, você está estranhando.

Já a desnaturalização é a compreensão de que os fenômenos sociais não são dados. Ao analisar fatos no interior das relações sociais, sempre desconfie de argumentos como “isso é assim mesmo” ou “isso é natural”. As sociedades humanas são complexas e voláteis como as pessoas que as compõem e, por isso, não são fundamentadas em fenômenos “naturais”. As relações sociais são fruto de escolhas, limites e trajetórias. Isso significa dizer que a sociedade está em constante transformação e mais, nós produzimos essa transformação, assim como podemos reproduzir o status quo. A partir desses dois conceitos percebemos que o saber sociológico busca superar o senso comum em busca de um saber crítico e científico sobre a sociedade.

Desenvolvimento 


Ato 1  (5 mins) - Apresentação do conceito de imaginação sociológica por meio do exemplo de Giddens sobre o café.


Ato 2 (20 minutos) - os discentes em grupos discutiram e articularam  o objeto/tema/tópico selecionado nas relações mais próximas da sua realidade, bem como, com o contexto macro maior.


Ato 3 (15 minutos) - Após as discussões em grupo, os grupos se apresentam para a sala e colocam para debate suas conclusões em torno do objeto/tema/tópico escolhido.


Ato 4 (10 minutos) - Cabe ao docente nos minutos finais finalizar a oficina destacando a importância da imaginação sociológica como instrumento de estranhamento e pesquisa. Bem como, tentar reunir os tópicos/objetos/temas ofertados aos alunos de forma coerente e coesão, como indústria cultural, revolução industrial, formação econômica social do Brasil, contratualistas, etc.

Referências 


GIDDENS, Anthony. O que é sociologia? In: ______. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 

2012. pp. 17-37.


MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. 2. ed. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.





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© Sociologia em Movimento.

Responsável: Dr Márcia Gobbi

Universidade de São Paulo

Faculdade de Educação

 Av. da Universidade, 308 - Butantã, São Paulo - SP.

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