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Oficina da pipa: abordando conceitos da teoria de Marx em sala de aula



 

Olá, Professoras e futuras professoras! Ano passado, na escola que atuamos, em Paraisópolis, junto do Professor de Sociologia, tratamos de conceitos da teoria marxista para entender o mundo do trabalho. Aqui, para nosso contexto, decidimos por realizar uma simulação de fábrica de pipas por conta do logo do nosso projeto e também por ser um objeto de lazer na periferia e, portanto, de interesse dos estudantes. Porém, vale ressaltar, que o produto final da simulação de fábrica pode ser qualquer um de interesse das estudantes e que seja viável para ser executada em sala de aula.

Objetivos: Apresentar e discutir alguns conceitos marxistas: exército industrial de reserva, mais valia, tecnização do trabalho, fetiche da mercadoria, salário, burguesia x proletariado, propriedade privada.

Resumo da oficina: A oficina consiste em simular uma fábrica de pipas com as alunas. No primeiro momento, as alunas são separadas em duas linhas de montagem* representando duas fábricas, cada fábrica terá uma gerente responsável e a dona da fábrica. As alunas que representam as trabalhadoras montam as pipas e os gerentes devem controlar a produção, controlar o tempo e a qualidade dos produtos. No segundo momento, a dona da fábrica deve vender as pipas, reter o lucro e pagar o salário das trabalhadoras e da gerente. * A quantidade de linhas de montagem são definidas conforme a quantidade de alunas participantes da oficina. Se houver mais linhas, consequentemente o processo de produção será feito em maiores partes, caso contrário, em menor.

Materiais necessários:

  • Tesouras

  • Caneta ou lápis

  • Réguas

  • Linhas número 10

  • Cola

  • Papel de seda

  • Sacola plástica

  • Varetas de bambu (uma de 50 centímetros e outra de 30)

Passo a passo da oficina:

Etapa

Min.

Descrição

  1. Conversa Inicial

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conversar com os participantes sobre pipa, perguntar quem já fez uma pipa, quem já soltou pipa.

2. Explicar a dinâmica

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Vamos construir pipas em uma linha de produção. Uma pessoa será o dono da fábrica, outra pessoa será o gerente e as outras serão trabalhadores alocados em diferentes pontos da linha de produção (possível divisão: uma estação para marcar as varetas, outra para amarrar em X e prender as 4 pontas, outra para passar cola e colar a seda, outra para traçar a linha, outra para recortar e dobrar, outra para cortar a sacola plástica e por fim uma para amarrar as tirinhas de sacola na linha e prender a pipa.

obs1: o número de estações de trabalho depende de quantos educandos estão presentes.

obs2: as estações devem ser uma ao lado da outra, na ordem de feitio da pipa.

​3. Organização

5

Organizar as linhas de montagem e distribuir os materiais (os materiais devem ser dados para o dono da fábrica). Atribuir os papéis.

4. Simulação da fabricação de pipas

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Acompanhar o processo de produção de pipas auxiliando e simulando uma fábrica real (demanda, gerenciamento e etc)

5. Simulação da venda

20

​Depois de prontas, as pipas são vendidas (usamos cartas de jogos de baralho ou dinheiro fake para simulação).


6. Discussão do tema

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Esse espaço é uma conversa aberta, para reconhecer os conceitos de Marx em cada etapa de produção, propor conversas, problematizações e reflexões. Também aconselhamos a devolutiva dos alunos, sobre o que acharam da oficina e trazer relatos de sua realidade.

* O Sociologia em movimento tem a possibilidade de utilizar uma carga horária maior que uma aula de 50/ 45 minutos. Desta forma, destacamos que todas as oficinas podem ser adaptadas para a realidade de cada professora/professor.






Veja: Para novas versões das oficinas, também trouxemos o papel do artesão em paralelo a produção da fábrica. Isso possibilita a discussão do contexto histórico de industrialização e a substituição do modo de produção artesanal pela manufatura e maquinofatura.


Segue como adaptamos essa dinâmica na oficina:

  1. Deixamos uma ou duas alunas como artesãs (aqui é interessante destinar o papel para alunas que saibam e tenham proximidade com a construção do produto, no caso a pipa, alunas que já empinam)

  2. Questão do tempo da natureza: o aluno precisa ir até o pátio da escola, “colher” os materiais (seda, papel, etc) e é sempre num regime de tempo, a seda só fica pronta a cada 10 minutos, a vareta a cada 20 minutos

  3. Feitura da pipa: como todo o processo individual, ele será mais longo e cuidadoso; tentar fazer com que os equipamentos sejam diferentes (uma cola mais artesanal, tesoura e régua improvisadas por ex). Essas pipas podem ser estilizadas e criativas, levando a noção de especialização da mão de obra e personificação - que se perde com a produção em grande escala -.

  4. Venda: Ao inserir o artesão na dinâmica da venda, atente-se para que o preço do seu produto seja muito maior e a venda seja direta com o cliente, sendo o lucro total pro artesão. (Isso possibilita discussões entre as diferenças dos modos de produção).


Possibilidades de discussões:


  • De quem é a Pipa produzida pela linha de produção? E a produzida pelo artesão?

  • Supondo que o patrão ganhou 100 reais pela venda da pipa, gastou 15 com os materiais, 25 com os trabalhadores e 10 com o gerente, de onde vem esses 50 reais que ficaram com ele?

  • Explicação das diferentes trocas: posso trocar uma pipa por uma mandioca porque estou com fome, ou por um tanto de dinheiro para comprar mandioca, se aquela pessoa não tiver mandioca (M-M, podendo ser intermediado por dinheiro), valor de uma coisa = valor de outra (valor = tempo de trabalho).

  • A troca capitalista funciona de outra maneira: se investe um tanto de dinheiro para produzir mercadorias e vender por mais dinheiro (D-M-D’) valor inicial < valor final. O fim é o dinheiro, e esse aumento do dinheiro provém do trabalho não pago (mais-valia), o valor que o trabalhador trabalha não equivale ao que ele recebe.

  • Mas o que faz com que esses trabalhadores não saiam da linha de produção e vão produzir como o artesão?

  • Explicação da desapropriação dos meios de produção, que força o trabalhador tenha que vender sua força de trabalho, já que não tem meios para produzir: criação das classes burguesas e proletarizadas. Além disso, enquanto o artesão produziu uma pipa a linha de produção produziu umas 4, permitindo que se barateie a pipa e, eventualmente, o artesão vá à falência, já que ninguém vai querer comprar sua pipa.

  • E se uma máquina produzisse a rabiola? O que acontece com o trabalhador que produz?

  • E se o patrão quiser baixar ainda mais o salário do trabalhador? Quais são suas opções?

  • Apresentar a ideia de exército industrial de reserva, “se você não quer, tem quem queira”. Apresentar a possibilidade da luta sindical, que força o patrão a não sujeitar os trabalhadores a mínima condição possível (pois seu único interesse é o lucro, então o que ele quer é pagar o mínimo possível para ter mais lucro, se comprometendo apenas em deixar os trabalhadores vivos).

As discussões sobre o tema não se esgotam.. Ainda enxergamos a possibilidade de atualização do tema para os dias atuais e a possibilidade de abordagem do trabalho a partir da análise da uberização. Assim, desencadeando novas discussões, aulas e reflexões. Quem sabe pra uma próxima oficina? Se você, professora, discente da graduação, tiver um plano de aula sobre uberização do trabalho, que tal compartilhar? Conversa com a gente aqui.


Até a próxima oficina!



 

Atenção! Lembre-se de empinar pipa apenas em locais abertos (como campo de futebol, parques, longe de fiação elétrica. Não use caco de vidro na rabiola, é perigoso e você pode se machucar.

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