Com a volta das atividades do Sociologia em Movimento, realizamos oficinas em uma nova escola. Situada na região do Morumbi e atendendo estudantes de toda a parte de São Paulo e, principalmente, Paraisópolis, planejamos uma nova oficina a partir dos assuntos de interesse das alunas¹. Com o tema "Um olhar sociológico e a democratização do ensino superior" , buscamos não apenas levar informações sobre o próprio processo seletivo do vestibular, mas também sobre reflexões da desigualdade de acesso à esse nível de ensino pela maior parte da população brasileira.
Baseadas principalmente na teoria do sociólogo Pierre Bourdieu, conversamos como o sistema escolar é um instrumento de conservação social, apresentando os conceitos de capital cultural, no qual podemos observar a correspondência entre o êxito escolar e o nível de formação dos antepassados da primeira e segunda geração, assim como o local de residência, e também o conceito de ethos, um sistema de valores interiorizados que faz com que mesmo no caso de crianças com êxitos escolares semelhantes não se tenha a mesma atitude frente à trajetória escolar. Os obstáculos do capital cultural, que produz baixo êxito escolar, e do ethos, que cria destinos de classe prefigurados, são cumulativos, produzindo uma superseleção das classes populares.
Esses apontamentos ajudam as alunas entenderem sociologicamente o processo vestibular e por que existem pessoas que entram na universidade e outras não. Mas para além da explicação, também evidenciamos o pensamento crítico referente a esses assuntos. Como popularizar então o ensino superior? Como alunas de grupos minoritários podem adentrar na Universidade? Aqui é um bom um bom momento para olhar para os movimentos de mudança dessa conservação das posições sociais sob vários ângulos. Desde famílias que lutam para contradizer o capital cultural e o ethos socialmente colocado para sua classe. Há também iniciativas como os cursinhos populares, no qual buscam interferir sobre esses aspectos sendo tanto como uma suplementação de capital cultural - que não demanda capital econômico -, quanto de conscientização e combate a uma expectativa estabelecida de não acesso ao ensino superior. Ainda é possível pensar em políticas públicas como a lei de cotas, que permitem um tratamento mais correspondente às diferentes trajetórias das alunas numa prova como o vestibular. A atuação de movimentos estudantis e movimento de professores por uma educação de qualidade são interessantes de serem abordados.
Para esta oficina, escolhemos falar principalmente da prova do ENEM e suas possibilidades de acesso. É importante que as alunas saibam como é feita a prova do enem, como são os programas que ela contempla, suas regras e sua abrangência. Há também a possibilidade de abordar sobre outros processos de vestibular da sua região. Além do mais, é muito interessante abordar sobre o vestibular indígena da UNICAMP e UFscar, você já ouviu falar?
Para as informações sobre o ENEM, recomendamos os seguintes sites:
O próprio site da edição vigente do ENEM: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/enem
Explicação sobre as diversas formas de uso da nota do ENEM: https://acessounico.mec.gov.br/formas-de-acesso
Como é a prova do Enem? https://vestibular.mundoeducacao.uol.com.br/enem/redacao-enem.htm#:~:text=Em%20resumo%2C%20saber%20detalhadamente%20as,na%20estrutura%20de%20disserta%C3%A7%C3%A3o%20argumentativa.
Falar sobre a política pública de cotas é essencial. Nós desenvolvemos explicações sobre quatro delas: Cota Racial, Cota Social, Cota de escola pública e cota PCD. Demonstrar o impacto da políticas de cotas na mudança dos ingressantes no Ensino Superior, com a inserção de perfis de alunas advindos de grupos minoritários mostra a importância dessa ferramenta de popularização do ensino superior. Disponibilizamos alguns dados para discussão com as alunas:
* Dica: Essa música pode ser uma ferramenta reflexiva para o assunto de cotas raciais em sala.
Outro ponto importante é disponibilizar informações para as alunas que tenham interesse em realizar a prova e desejam se preparar. Reunimos para a escola da oficina um levantamento (online) dos principais cursinhos populares da região, e também os de ensino a distância, com diversos tipos de turno de oferecimento, a fim de que as alunas possam se direcionar para um acompanhamento nessa trajetória de maneira gratuita.
E vai uma dica, existem alunas que não conseguem pagar a taxa de inscrição e perderam o prazo de isenção? Conheça esses projetos que visam o custeio da taxa de inscrição de alunas de baixa renda.
Por último, mas não menos importante, conversar sobre os programas de permanência estudantil é muito importante para as perspectivas dos jovens, principalmente os estudantes de escolas públicas. Saber que você pode receber apoio psicológico, financeiro, alimentação, creche, lazer e cuidado a partir de políticas de permanência que as universidades públicas oferecem é essencial para a decisão e planejamento de estar no ensino superior. Pesquise sobre a rede de assistência de permanecia das escolas da sua região e exponha às alunas. Exemplos da USP:
disponível em: https://vemprausp.usp.br/estudar-na-usp/apois-ao-aluno/
Essa oficina tem como objetivo refletir com as alunas sobre a universidade e o ensino educacional brasileiro. Para além disso, também visamos popularizar informações sobre o processo de vestibular, seu acesso e o ensino superior.
Até a próxima (:
¹ Usamos o gênero das palavras flexionadas no feminino universal como escolha política do grupo.
** Nossas oficinas são disponibilizadas para uso público e são totalmente adaptativas para as realidades de cada educadora, fique à vontade.
Redação: Amanda Oliveira, Júlia Puhl e Jerônimo. Arte por: Amanda Oliveira.
Oficina/Plano de aula por: Sociologia em Movimento
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